Um dia uma parte de mim se
perdeu.
Minha manhã foi confortável, leve e macia. Os
três primeiros períodos de aula passaram voando. Já os três últimos passaram
devagar como uma pena descendo ao movimento do vento.
O tempo, novamente, acelerou a partir do
meio-dia. Precisei correr para não perdê-lo de vista. Apressei-me mais do que o
necessário.
Não conheci o lugar onde estava. Perguntei a
um menino, que passava na rua, mas não obtive resposta. Ninguém me via. Comecei
a ficar preocupada. Senti-me fraca, impotente, perdida. Olhei para todos os
lados, mas percebi que seria inútil. Será que estava invisível? Que lugar era
aquele e por que ninguém me via?
Caminhando com certa dificuldade, estava
tonta, observei a paisagem ao meu redor. Vi uma casa que me chamou a atenção.
Era muito bela, diferente e grande. Quase desmaiei. Também me vi! Aquele rosto
era inconfundível. Estava uns vinte anos mais velha. Descobri que era uma
cientista famosa. Havia cartazes com meu nome por todos os lados Em um deles
dizia assim: “ Dia 5 de abril, a maior inventora de todos os tempos irá
apresentar sua nova descoberta.” Verifiquei a data, 22 de março de 2030. Aquilo
não poderia estar acontecendo!
Não sabia o que iria fazer. Só conseguia
chorar. E se não pudesse mais voltar para 2007? Perderia grande parte de minha
juventude. A tristeza invadiu meu coração. De repente senti fome. Queria comer,
mas nem isso podia fazer. Era como se estivesse presente naquele momento,
naquele lugar, mas aquilo não existisse. Não, era eu que não existia.
Perdi grande parte de minha vida. Não
alimentei minha adolescência, deixei-a morrer. Hoje sou cientista. Buscava uma
maneira de voltar para o passado e resgatá-la. Um dia descobri que ela esteve
bem ao meu lado e novamente a perdi.
Letícia Rocha
escrito em 2007.
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