segunda-feira, 22 de abril de 2013

Um dia uma parte de mim se perdeu.








Um dia uma parte de mim se perdeu.

  Minha manhã foi confortável, leve e macia. Os três primeiros períodos de aula passaram voando. Já os três últimos passaram devagar como uma pena descendo ao movimento do vento.
  O tempo, novamente, acelerou a partir do meio-dia. Precisei correr para não perdê-lo de vista. Apressei-me mais do que o necessário.
  Não conheci o lugar onde estava. Perguntei a um menino, que passava na rua, mas não obtive resposta. Ninguém me via. Comecei a ficar preocupada. Senti-me fraca, impotente, perdida. Olhei para todos os lados, mas percebi que seria inútil. Será que estava invisível? Que lugar era aquele e por que ninguém me via?
  Caminhando com certa dificuldade, estava tonta, observei a paisagem ao meu redor. Vi uma casa que me chamou a atenção. Era muito bela, diferente e grande. Quase desmaiei. Também me vi! Aquele rosto era inconfundível. Estava uns vinte anos mais velha. Descobri que era uma cientista famosa. Havia cartazes com meu nome por todos os lados Em um deles dizia assim: “ Dia 5 de abril, a maior inventora de todos os tempos irá apresentar sua nova descoberta.” Verifiquei a data, 22 de março de 2030. Aquilo não poderia estar acontecendo!
  Não sabia o que iria fazer. Só conseguia chorar. E se não pudesse mais voltar para 2007? Perderia grande parte de minha juventude. A tristeza invadiu meu coração. De repente senti fome. Queria comer, mas nem isso podia fazer. Era como se estivesse presente naquele momento, naquele lugar, mas aquilo não existisse. Não, era eu que não existia.
  Perdi grande parte de minha vida. Não alimentei minha adolescência, deixei-a morrer. Hoje sou cientista. Buscava uma maneira de voltar para o passado e resgatá-la. Um dia descobri que ela esteve bem ao meu lado e novamente a perdi.

                                                                                           Letícia Rocha

                                                       escrito em 2007.



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