Caminhando devagar
eu vou pensando. Queria viajar para o futuro e saber como são as coisas lá. Não
estou contente com minha vida de agora e necessito de melhoras urgentes. Não
sei exatamente por quê. A vida é muito mais que um mundo de cores. Sou um
pincel descontrolado que sai a pintar tudo o que pensa.
Em minha frente há
uma janela de vidro, a vitrine que parei para olhar. Há cadernos e canetas.
“Meus passos são palavras de grandes histórias”, escrevo ao testar uma caneta
da loja. Uma lágrima escorre de meus olhos. Não acredito no que estou vendo.
Estou em um lugar
totalmente escuro, onde há apenas um livro emitindo luz e brilho no chão. Ao
tocar no livro, sinto um leve formigamento em minhas mãos. Abro-o e leio: “Esta
é a chave para o controle do tempo”. Passo a página e me assusto com o que há.
Uma foto minha testando a caneta da loja. Avanço novamente e leio naquelas
letras luminosas : “ Dedico esse livro a mim mesmo”. Pergunto-me quem seria o
autor e novamente me espanto. Sou eu.
Depois de um forte
estrondo e tonturas, encontro-me em outro local desconhecido ao lado de uma
árvore. Sentindo-me estranhamente cansada, observo a paisagem. Está amanhecendo
e há poucas pessoas na rua. Alguém me olha de uma maneira curiosa. Com uma
força fora do comum, de repente me segura pelo braço e me arrasta até um lugar
semelhante a uma casa.
Minhas mãos estão
presas, e ouço conversas lá fora. Quem me trouxe não era uma pessoa, mas sim,
um robô. Não entendo a língua deles, mas eles entendem a minha e são capazes de
falá-la. Disseram-me que não sabem como é possível que eu exista, pois todos os
humanos já foram extintos em 2108. Mas eu vivia em 2008. Como assim? Quer dizer que eu estava a mais de cem anos à frente de minha época? Fiquei atordoada com
a ideia. Os robôs disseram-me que não poderiam me deixar viver, que eu teria que
ser exterminada como os outros, mas antes eles fariam com que eu escrevesse um
livro, o último livro escrito por um ser humano. Esse livro seria a luz na escuridão
para qualquer ser humano que se encontrasse em outra época. Os robôs conheciam
a chave do controle dos anos e isso nenhum ser humano poderia saber, por isso
eu deveria também ser extinta.
Após escrever,
deixei escorrer uma lágrima. Ouvi um forte estrondo e senti tonturas. Foi assim
que percebi que me encontrava novamente na rua, onde eu andava no começo. Fiquei
a me perguntar se aquilo realmente havia acontecido. Tive certeza quando li em
meus braços: “ Meus passos são palavras de grandes histórias”.
História escrita por Letícia Rocha em 2008
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