terça-feira, 20 de março de 2012

Som e Movimento



   Ouço um som que me impulsiona e que me mantém em movimento, me fazendo acelerar, andar com mais firmeza, correr e voar. De onde vem o que ouço? Vem  do meu interior, mas eu também o escuto vindo de fora. É uma melodia que se combina com o que há de mais profundo e intenso dentro de mim.  Mistura-se  com meu sangue, irriga minhas células, faz meu coração bater mais forte.
   Enquanto eu ando e aumento minha velocidade cada vez mais, já não sou capaz de me manter no chão, de repente estou voando. Abro meus braços para manter o equilíbrio, mas o que me mantém suspensa é o que estou ouvindo. Porém, o som nem sempre é o mesmo. E há períodos que ele oscila, tanto no ritmo, quanto nas notas ou até mesmo no volume,  tornando- se, muitas vezes, difícil de escutá-lo. Quando a música é mais leve, eu adormeço e ao acordar encontro-me em terra firme. É preciso levantar e começar uma nova caminhada e novamente surge aquela melodia que me impulsiona a andar mais rápido.
  O problema é que o som externo nem sempre é compatível com o que flui no meu interior. Eles querem me levar a direções diferentes. Nessa situação, surge uma pressão que não posso descrever a intensidade. Então, meu sangue desce  através de meus olhos, minhas lágrimas possuem melodia. O sangue molha a terra e notas musicais se espalham pelo ar. Assim, minha música  combina mais uma vez com a que vem de fora.  Pois minhas lágrimas mudaram o exterior. Agora posso continuar a andar. Pra onde estou indo?
  Não sou capaz de responder, mas anseio por continuar.  Meu viver não é independente. Se eu paro, meu sangue perde a cor, minhas células morrem e meu coração para.

Leticia Rocha

Escrito em 2009.
Obs: Aprendi a administrar o meu voo. Por isso, hoje sou feliz.

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