segunda-feira, 11 de maio de 2020

Tempo difícil

Tempo difícil


   Estamos apaixonados. Ele é o amor da minha vida: um pianista conceituado e eu, uma estudiosa de canto. Vivemos o outono e foi em um entardecer dessa bela estação que ele me pediu em casamento. Porém, nossas vidas foram interrompidas de forma inesperada.
   Um vírus atacou o nosso planeta. Estou impedida de ver meu amor. Meu noivo foi fazer um concerto na Itália e todos os membros da orquestra contaminaram-se com o vírus. Ele passou muito mal, foi diagnosticado e internado por tempo indeterminado. Não pode receber visitas. Para piorar a situação, estou impedida de cantar em shows e de dar aulas de canto devido a um decreto do governo do Rio Grande do Sul para que a população fique em isolamento. Estou em uma crise financeira por não ter dinheiro guardado e estar comprometida com a compra de um apartamento, mas minha família está me ajudando, pois meus pais são concursados. Por enquanto, faço doces para vender e ter o dinheiro do dia a dia. Me pergunto “O que fizemos para merecer essa situação no mundo?” É crise atrás de crise e vidas interrompidas ou perdidas. Amo meu noivo e quero vê-lo. Estou em profunda tristeza, nem no chuveiro canto mais.
   Acabo de receber notícias de que o governador do estado enviou um cronograma de reabertura das atividades. Fico feliz em poder voltar a trabalhar com a música mas, pelo que vi no cronograma, ainda terei que esperar mais uns meses. Porém, isso não é o que me preocupa mais. Sinto falta do meu Jorge, meu noivo pianista.
   Recebi uma ligação do hospital. Jorge está reagindo bem ao tratamento e receberá alta em breve. Meu coração está dando pulos de alegria. O vírus não destruirá minha vida, meu amor, minha carreira e o mundo. Nossos planos apenas foram interrompidos para que valorizemos mais cada instante que temos…

Letícia Rocha Bilhalva

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