Tempo difícil
Estamos
apaixonados. Ele é o amor da minha vida: um pianista conceituado e
eu, uma estudiosa de canto. Vivemos o outono e foi em um entardecer
dessa bela estação que ele me pediu em casamento. Porém, nossas
vidas foram interrompidas de forma inesperada.
Um
vírus atacou o nosso planeta. Estou impedida de ver meu amor. Meu
noivo foi fazer um concerto na Itália e todos os membros da
orquestra contaminaram-se com o vírus. Ele passou muito mal, foi
diagnosticado e internado por tempo indeterminado. Não pode receber
visitas. Para piorar a situação, estou impedida de cantar em
shows e de dar aulas de canto devido a um decreto do governo do Rio
Grande do Sul para que a população fique em isolamento. Estou em
uma crise financeira por não ter dinheiro guardado e estar
comprometida com a compra de um apartamento, mas minha família está
me ajudando, pois meus pais são concursados. Por enquanto, faço
doces para vender e ter o dinheiro do dia a dia. Me pergunto “O que
fizemos para merecer essa situação no mundo?” É crise atrás de
crise e vidas interrompidas ou perdidas. Amo meu noivo e quero vê-lo.
Estou em profunda tristeza, nem no chuveiro canto mais.
Acabo
de receber notícias de que o governador do estado enviou um
cronograma de reabertura das atividades. Fico feliz em poder voltar a
trabalhar com a música mas, pelo que vi no cronograma, ainda terei
que esperar mais uns meses. Porém, isso não é o que me preocupa
mais. Sinto falta do meu Jorge, meu noivo pianista.
Recebi
uma ligação do hospital. Jorge está reagindo bem ao tratamento e
receberá alta em breve. Meu coração está dando pulos de alegria.
O vírus não destruirá minha vida, meu amor, minha carreira e o
mundo. Nossos planos apenas foram interrompidos para que valorizemos
mais cada instante que temos…
Letícia
Rocha Bilhalva
Nenhum comentário:
Postar um comentário