sábado, 24 de outubro de 2020

Jogo







    Eu queria atenção, mas era sempre assim: meu esposo jogando o jogo do Pokémon. Dia e noite eu o chamava " Querido, vamos almoçar. Querido, vamos jantar" e era só nesses momentos que ele largava o Pokémon. Depois voltava ao jogo e ficava até a madrugada jogando. Eu não aguentava mais. 
    Até que um dia eu fiquei assombrada com o que vi no sofá: Meu esposo abraçado em um Pokémon de verdade. Eu não aguentei. Peguei o Pokémon pela orelha e arrastei até a panela. A comida era a única coisa que fazia meu esposo largar o jogo e me olhar nos olhos. Cozinhei o Pokémon. Ficou tão saboroso! Gostei tanto. Nunca tinha provado nada parecido. Viciei no alimento. Queria de novo. Pedi ao meu esposo para que jogasse mais. Eu queria porque queria comer novamente. Até eu comecei a jogar. Nossa casa ficou cheia de Pokemons e nós engordamos.

Letícia Rocha Bilhalva

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Escolha

 


    Saiu de casa apressada. Não podia se atrasar para a entrevista de emprego. Ao chegar lá, percebeu algo estranho " Estaria doente?". Não estava enxergando bem e seu rosto estava enrugado e os seus cabelos brancos como percebera ao olhar-se no espelho do elevador. O que havia acontecido?" Entrou em pânico. "Ficara velha de repente!". Tudo o que pensava é que queria sua juventude de volta. Ficou irada e violenta: começou a quebrar tudo do escritório de advocacia em que faria a entrevista de emprego. 
     Foi presa. Ao chegar na cadeia, viu-se jovem novamente. " Que brincadeira era essa que o tempo estava lhe fazendo?." Ficou sem compreender. Pegou 30 anos de cadeia. Só saíria de lá velha. 
    Encontrou uma pena de pássaro muito estranha na cadeia. Uma pomba pousava na janela todos os dias. Em um dia, ela deixou a pena branca. Havia uma mensagem nela " Você quer sua liberdade? Então, abra mão da sua juventude." Ela pensou e pensou. Preferiu a prisão.

Letícia Rocha Bilhalva









sábado, 3 de outubro de 2020

Exploração

 






Exploração


   Ela não tinha mais sossego. Não tinha um momento sequer que estivesse sozinha. Estava sendo explorada de tanto trabalhar para Camila de dia e de noite. Ela: a cama do apartamento de camila, que vivia deitada.


Letícia Rocha Bilhalva

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Ciúme

 




    Eles trabalhavam na cozinha. Um fazia limpeza. O outro cozinhava. Se davam bem. Eram grandes amigos. Os demais admiravam o companheirismo dos dois, porém um deles tinha o temperamento muito forte e, ao ver que seu amigo estava se destacando mais no serviço que ele, encheu-se de ira. Incendiou a cozinha por raiva. Enquanto o Palito limpava os dentes e fazia um grande sucesso, já que ninguém queria usar o Fio dental, o Fósforo foi substituído pelo Isqueiro.


Letícia Rocha Bilhalva

sábado, 6 de junho de 2020

Tempo para tudo

Tempo para tudo


Há tempo para tudo: tempo de ser escudo, tempo de ser espada. Há tempo para tudo: tempo de fazer amizades e tempo de perdoar.

Na vida, se conquista. Porém, há o tempo da batalha. Na vida, se trabalha, mas há também o tempo do descanso.

Há momentos de alegria. Mas, há momentos de chorar. Há situações em que se precisa compreender e há situações em que se precisa ser compreendido. Há mal entendidos e há também esclarecimentos.

Há o tempo de buscar conhecimento e o tempo de compartilhar o que foi aprendido.

Há o tempo de cantar, de abraçar e de pular de felicidade. Mas, chega a hora do luto.

Há a fase de ser criança e a fase de ser adulto. Há a fase de crescer e a fase de envelhecer.

É possível ganhar, perder e reconquistar. É necessário entender que não existe felicidade definitiva e que é vã a busca pelo sucesso permanente. O que existe é o tempo de ser bem-sucedido e o tempo de reconquistar novamente. Existe o momento de ser feliz e o momento de estar abatido. É preciso lutar pela paz interna para suportar as diversas formas que a vida se apresenta. Tudo depende do que é cultivado. A vida é um jardim que precisa ser cuidado todos os dias. Que a caminhada seja com flores brotando!

Letícia Rocha Bilhalva

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Tempo difícil

Tempo difícil


   Estamos apaixonados. Ele é o amor da minha vida: um pianista conceituado e eu, uma estudiosa de canto. Vivemos o outono e foi em um entardecer dessa bela estação que ele me pediu em casamento. Porém, nossas vidas foram interrompidas de forma inesperada.
   Um vírus atacou o nosso planeta. Estou impedida de ver meu amor. Meu noivo foi fazer um concerto na Itália e todos os membros da orquestra contaminaram-se com o vírus. Ele passou muito mal, foi diagnosticado e internado por tempo indeterminado. Não pode receber visitas. Para piorar a situação, estou impedida de cantar em shows e de dar aulas de canto devido a um decreto do governo do Rio Grande do Sul para que a população fique em isolamento. Estou em uma crise financeira por não ter dinheiro guardado e estar comprometida com a compra de um apartamento, mas minha família está me ajudando, pois meus pais são concursados. Por enquanto, faço doces para vender e ter o dinheiro do dia a dia. Me pergunto “O que fizemos para merecer essa situação no mundo?” É crise atrás de crise e vidas interrompidas ou perdidas. Amo meu noivo e quero vê-lo. Estou em profunda tristeza, nem no chuveiro canto mais.
   Acabo de receber notícias de que o governador do estado enviou um cronograma de reabertura das atividades. Fico feliz em poder voltar a trabalhar com a música mas, pelo que vi no cronograma, ainda terei que esperar mais uns meses. Porém, isso não é o que me preocupa mais. Sinto falta do meu Jorge, meu noivo pianista.
   Recebi uma ligação do hospital. Jorge está reagindo bem ao tratamento e receberá alta em breve. Meu coração está dando pulos de alegria. O vírus não destruirá minha vida, meu amor, minha carreira e o mundo. Nossos planos apenas foram interrompidos para que valorizemos mais cada instante que temos…

Letícia Rocha Bilhalva